Meu mais querido amigo!
Só
para você.
Lamente-se
comigo, meu amigo! Este foi o dia mais triste de minha vida — escrevo esta às
duas horas da manhã. Preciso dizer-lhe que minha mãe, minha querida mãe,
faleceu! Deus a chamou para Si. Era sua vontade leva-la, isso pude ver
claramente — por isso resignei-me à Sua vontade. Ele a deu para mim, por isso
Ele tinha o direito de tirá-la de mim. Pense, porém, em toda a minha ansiedade,
nos temores e tristezas que tive de suportar nos últimos quinze dias. Ela
estava praticamente inconsciente no momento de sua morte — sua vida apagou-se
como a chama de uma vela. Três dias antes de morrer ela se confessou, recebeu o
Sacramento e a extrema-unção. Durante os últimos três dias, no entanto, delirou
constantemente e hoje, às cinco horas e vinte e um minutos, a agonia da morte
começou e ela perdeu todas as sensações e a consciência. Apertei-lhe a mão e
falei com ela — mas ela não me viu, não me ouviu, todos os seus sentidos haviam
desaparecido. Ela ficou assim até ter expirado, cinco horas depois, às dez
horas e vinte e um minutos. Só estávamos presentes eu, Herr Haina (um gentil
amigo que meu pai conhece) e a enfermeira. É impossível para mim descrever hoje
todo o decorrer de sua doença, mas estou firmemente convencido de que ela
estava predestinada a morrer e que Deus assim o havia ordenado. Tudo que lhe
peço neste momento é que represente o papel de um verdadeiro amigo, preparando
meu pobre pai com muito cuidado para esta triste notícia. Escrevi uma carta
para ele, por este mesmo correio, mas só para dizer que ela está seriamente
doente; e agora só para dizer que ela está seriamente doente; e agora vou
esperar que ele me responda, e guiar-me por essa resposta. Que Deus dê a ele
força e coragem! Oh, meu amigo! Não me sinto consolado só agora, como há algum
tempo venho tendo consolo. Com a misericórdia de Deus suportei tudo com firmeza
e compostura. Quando a doença dela se tornou perigosa, supliquei a Deus apenas
duas coisas — uma morte feliz para ela, e força e coragem para mim mesmo; e
Deus, em Sua bondade, ouviu minha prece e me concedeu essas duas bênçãos com
máxima prodigalidade. Suplico-lhe, portanto, meu mais querido amigo, que cuide
de meu pai por mim e tente dar-lhe coragem, de forma que, quando ele souber do
pior, não receba o golpe com muita dureza. Recomendo-lhe também minha irmã, de
todo o meu coração. Vá procurá-los imediatamente, eu lhe imploro — mas não lhes
conte que ela já morreu — apenas prepare-os para isso. Faça o que achar melhor
— use todos os meios possíveis para consolá-los — mas aja de forma a tirar-me
esse peso da cabeça — e que eu não precise temer um novo golpe. Cuide de meu
querido pai e minha querida irmã para mim. Responda-me imediatamente, eu lhe
imploro. Adieu, Seu criado mais obediente e grato.
Wolfgang Amadè Mozart
A mãe de Mozart, Anna-Maria. Retrato de artista descohecido, c. 1775 (Mozarteum de Salzburgo) |
Fragmento: As vidas Ilustradas dos Grandes Compositores
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