Na morte, não. Na vida.
Está na vida o mistério.
Em cada afirmação ou
abstinência.
Na malícia
das plausíveis revelações,
no suborno
das silenciosas palavras.
Tu que estás morto
esgotaste o mistério.
Ora a distância perseguias,
ora recuavas.
Era apogeu ou o nirvana
que tateando buscavas?
Ah! Talvez fosse a morte.
Não se sabia quando vinhas
nem quando partias. Eras
o Esperado e o Inesperado.
Grandes navios viajavas
com a mesma estranha gratuidade
com que ao planalto descias
por uma escada de nuvens.
Belo de inconstância e arrojo
com teu lastro de intuições,
a um apelo da noite
todo te entregavas, trêmulo
entre carícias e tempestades.
Que mundo vinha nascendo?
Ah! Talvez fosse a morte.
Conheceste os suspiros,
o lento disfarce do sangue,
as rosas do espírito, as secas
rosas nos dedos trituradas.
Por uma solução ansiavas...
Ah! Talvez fosse a morte.
Agora estás poderoso
de indiferença, de equilíbrio.
Completo em ti mesmo, forro
de seduções e amarras.
Nada te açula ou tolhe.
És todo és um, apenas.
A plenitude da água,
da pedra, tens.
E és natural, és puro, és simples como
a água, a pedra.
Fragmento: Flor da Morte — Henriqueta Lisboa
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